Alma-de-mestre e as alterações climáticas

O alma-de-mestre Hydrobates pelagicus é a mais pequena e enigmática ave entre as espécies pelágicas europeias. Passa a sua vida no mar e só vem a terra firme para nidificar. Constrói o seu ninho em fendas, nas costas rochosas isoladas ou ilhotas. É conhecida pelas suas migrações a grandes distâncias. Os juvenis ficam no hemisfério sul para depois vaguearem pelas costas africanas e europeias em busca de possíveis territórios de nidificação.

Todos os anos, desde 1990, A ROCHA monta acampamento à noite, numa arriba na costa algarvia, para proceder ao seu estudo. Até 2013 já foram capturados, estudados e libertados cerca de 5900 painhos dos quais 3,6% já tinham sido anilhados noutro local.

Este projeto de investigação, da responsabilidade do Dr. Rob Thomas e Dra. Renata Medeiros da Universidade de Cardiff, com quem colaboramos, estuda como as alterações climáticas podem afetar a sobrevivência da espécie, em relação às temperaturas superficiais da água do mar e à disponibilidade de alimento.

Nidificação do borrelho-de-coleira-interrompida

O borrelho-de-coleira-interrompida Charadrius alexandrinus é um pequeno borrelho com uma distribuição mundial ao longo das zonas costeiras, praias, e salinas.

Nos últimos anos assiste-se a um dramático declínio nas populações mundiais desta espécie, principalmente devido à perturbação humana, especialmente nas zonas costeiras, o seu local principal de nidificação.

Em Portugal, o número de reprodutores do borrelho-de-coleira-interrompida ainda apresenta um valor relativamente alto, com uma população estimada de 1200 a 3000 casais. No estuário da Ria de Alvor estão estimados menos de 50 casais em habitats como dunas, sapais e salinas.

A ROCHA iniciou a monitorização da população reprodutora de borrelho-de-coleira-interrompida no estuário da Ria de Alvor em 1992 e, desde essa data,  importantes estudos sobre a nidificação desta espécie têm sido levados a cabo por estudantes e voluntários. O objetivo destes estudos é descobrir o que influência os borrelhos a escolherem determinados locais para os seus ninhos e qual o sucesso de eclosão dos seus ovos.

Alterações do uso do solo e impacto nas ornitocenoses

Em Portugal ao longo dos últimos anos o uso do solo sofreu alterações aceleradas quer ao nível da intensidade agrícola, da expansão urbanística, da eliminação da floresta nativa ou do abandono do uso agrícola. No caso concreto do Algarve a transformação de solo rural em solo urbano, sobretudo na faixa litoral,  contribuiu para a perda de habitats e potencialmente para a redução da biodiversidade.

As aves são considerados bom indicadores do estado da biodiversidade, designadamente em relação ao espaço rural, tendo mesmo sido adotados como objetos de monitorização da biodiversidade pela União Europeia.

Desde a década de 80 que A ROCHA regista informação sobre as aves da Ria de Alvor. Neste projeto serão utilizados esses dados como objeto de estudo para percecionar a diferentes escalas as alterações da paisagem ocorridas na última década no Barlavento algarvio.

Redes ecológicas de polinização e recuperação pós-fogo

Os fogos são uma constante natural nos ecossistemas mediterrânicos e a sua importância na dinâmica da vegetação é largamente reconhecida. Contudo estas mudanças nos ecossistemas afetam a abundância e eficiência dos polinizadores.

A recuperação ecológica de um sistema implica a restauração da interação polinizador-planta, pelo que esta pode servir como um importante bio-indicador para comparar comunidades de referência com comunidades que sofreram perturbação.

O estudo em causa tem como objetivo avaliar a recuperação das interações planta-polinizador após um fogo numa área selecionada da Serra do Caldeirão, junto de S. Brás de Alportel.  Serão comparadas áreas ardidas em 2012 com áreas intactas e construídas redes de polinização, com especial ênfase nas borboletas noturnas. Este projeto vai permitir construir múltiplas redes ecológicas de polinização entre locais sem perturbação e locais com perturbação causada pelo fogo e determinar quais os polinizadores mais importantes. No final poder-se-á concluir sobre a importância das interações entre plantas e polinizadores enquanto indicadoras da estabilidade e resiliência dos ecossistemas.